A Astrologia Indiana Moderna
Quando nos referimos às diferenças entre a Astrologia Ocidental e a Astrologia Indiana, um dos argumentos mais fortes dos astrólogos que praticam a Astrologia Indiana é justamente a de que esta é a verdadeira astrologia, é sagrada, pois foi recomendada por divindades nos Vedas, livro sagrado para os hindus.
Como ponto de partida é importante mencionar que o termo “védico” foi acrescentado ao tema Astrologia com o intuito de associá-la como algo divino, vindo dos deuses, mas que a Astrologia Indiana que se pratica hoje, não foi ensinada nos Vedas.
O termo védico é associado ao período de 4000 AEc, quando os Vedas (coletânea de 4 livros sagrados e dois adendos) eram a forma a base da filosofia de vida indiana. Os livros que compõem os Vedas são:
- Shiksha (śikṣā): fonética e fonologia (sandhi)
- Chandas (chandas): métrica
- Vyakarana (vyākaraṇa): gramática
- Nirukta (nirukta): etimologia
- Jyotisha (jyotiṣa): astrologia e astronomia, lidando particularmente com os dias auspiciosos para a realização de sacrifícios.
- Kalpa (kalpa): rituais
Mas quando buscamos as informações astrológicas no Vedas, no livro Jyotisha Vedanga há pouca menção a temas astrológicos. E as que surgem ao longo do livro, não têm relação com o que é praticado hoje.
A astrologia védica atual é natal, para se idenficar as promessas da vida de um nativo, assim como na Astrologia ocidental. Ao observar os Vedas, vemos que a astrologia praticada naquela época servia especialmente como calendários para toda a sociedade. Ou seja, avaliar caráter, e promessas da vida individual não era um objetivo dos Vedas.
Seguindo no fluxo da História, temos os Puranas, outro texto clássico indiano, onde são citados detalhes do mapa natal de Krsna, e em outras obras posteriores, o livro astrológico Bṛhat-parāśara-horā-śāstra que afirmam ser uma revelação pelo vidente védico Parāśara. Estas passagens dos Puranas que também citam o zodíaco, podem ser datadas, pois indicam em seus textos os equinócios iniciando em Áries e Libra.
अष्टम्यां श्रावणे मासे कृष्णपक्षे महातिथौ
“[Kṛṣṇa nasceu] o grande dia: a 8ª fase da parte minguante do mês de Śrāvana. Rohiṇī surgiu com a lua à meia-noite. ”
रोहिण्यामर्धरात्रे कृष्णः च रामः सुधांशोरुदये तथा
aṣṭamyāṃ śrāvaṇe māse kṛṣṇapakṣe mahātithau
rohiṇyām ardharātre CA sudhāṃśor udaye tathā
Na realidade, a parte mais antiga deste trabalho foi escrita a cerca de 1400 anos atrás, e não era conhecido pelos astrólogs indianos até aproximadamente 1980. Outros textos antigos são atribuídos entre eles Varāhamihira e Āryabhaṭa, o Sūryasiddhānta, o Yavanajataka e um texto intitulado Gargasaṃhitā, todos elaborados no séc Iec.
O que percebemos então é que a Astrologia Védica praticada hoje é um mix dos conceitos astrológicos advindos das culturas egípcia, grega e mesopotâmica, do que propriamente dos Vedas.
O que é considerado nos Vedas é a utilização do shatras, posição da lua nas 27 ou 28 mansões lunares, bem como nas fases lunares, eclipses, solstícios e equinócios. Os planetas não tinham nenhum papel, não eram mencionados, os signos do zodíaco tampouco. As observações do céu eram importantes somente para os cultos e sacrifícios, como é declarado expressamente no Vedā Gajyotiṣa, o livro de texto o mais velho na astronomia e no cálculo do calendário.
A QUESTÃO DAS ESTAÇÕES DO ANO
As estações do ano são ignoradas quando se utiliza o zodíaco sideral, o zodíaco que é empregado nos cálculos da Astrologia Védica atual. Uma das críticas mais fortes dos astrólogos védicos atuais aos astrólogos que utilizam o zodíaco tropical, é justamente o fato de seguirmos as estações do ano no zodíaco tropical, e não as constelações do zodíaco. Curiosamente, percebemos uma nítida importância atribuída pelos hindus antigos às datas dos cultos baseados nas estações. Em várias obras antigas da Índia há traços desta importância. Satapathabrāhmaṇa 6.7.1.18 diz que o ano é baseado nas estações. De acordo com Aitareyabrāhmaṇa, o solstício de verão é o ponto médio do ano. O texto descreve um método para determinar a data do Solstício por observações do Sol. Em ambos os solstícios foram citados como momentos de sacrifícios oferecidos aos deuses. O livro de texto astronômico mais antigos da India, Vedā, Gajyotiṣa ensina que o começo do mês de māgha coincide idealmente com o Solstício do inverno e uma Lua nova no começo da mansão lunar O dhaniṣṭhā.
Controversamente, o fato do zodáico tropical aparecer nas escrituras sagradas indianas leva os astrólogos contemporâneos utilizadores das técnicas indianas a reinvindicar que a Astrologia Helenista é que deriva da Indiana. Porém há comprovação história, documentada em inscrições que atestam a criação do zodíaco pelos mesopotâmios. A representação mais conhecida é a de Gilgamesh, Gilgamesh e o Touro do céu (touro). Representações pictóricas mostram o touro com sete pontos acima do pescoço, representando as Pleiades. Em outras representações as Pleiades aparecem no pescoço do touro. O texto astronômico cuneiforme epinnu (Mul. Apin) lista 17 constelações ao longo da eclíptica.
Plínio, o ancião, Historiae Naturae II. 6, os signos do Zodíaco foram introduzidos por Cleostratos de Tenedos, que viveu por volta de 500 AEC. Euctemon menciona pelo menos as constelações Escorpião e Câncer em seu parapegma.
Em textos cuneiformes do século 5 AEC. também aparece o Zodíaco de 12 signos iguais de 30 ° cada. Este zodíaco foi usado nas teorias matemáticas de órbitas planetárias e no cálculo de efemérides, que começou a ser desenvolvida neste momento.
Se a Astrologia Védica atual não é a mesma praticada nos Vedas, o que ela pode nos fornecer em termos de estudo?
O sistema de previsões védicos contemporâneos são bastante apurados, devido a uitlização de várias maneiras de cronometrar o tempo, e estudar os ciclos.
A Ideia dos Shatras ou ocidentalmente Mansões lunares, que também tem semelhante visão da China, e onde descortinamos uma maneira diferente de observar o zodíaco.
Para concluir eu diria àquele orientador da reunião que participei:
“Estude, e confronte com a História. Contra os fatos nada se pode fazer.”
Fontes:
Hindu Predictive Astrology Varaha Mihira, Bṛhajjātakam 19.2, translation by N. Chidambaram Iyer,
Dieter Koch’s book:”Kritik der astrologischen Vernunft”
Thompson, Richard L. 2004. Vedic Cosmography and Astronomy.